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Ilustração de Roswie Goof |
Beijar as pessoas é coisa corriqueira. Felizmente. Às vezes é um só beijinho no rosto, uma "bochechada" - em que os rostos se encostam, mas os lábios só estalam -, daquelas que se dá em colegas ou conhecidos. Ou pode ser beijo de amigo, daquele em que os lábios encontram o rosto do outro. Ou pode ser beijo na boca. Para os mais jovens, talvez uma sucessão de bocas sem nome, em ficadas efêmeras e irrelevantes. Para os enamorados, uma janela para dentro do outro. Para o casal já estável, talvez uma frasezinha sem palavras: "Tenha um bom dia, amor".
Lembro-me, na pré-adolescência, quando comecei a cumprimentar as meninas com um beijinho no rosto, que eu fazia com aparente naturalidade, mas sempre com especial ansiedade.
Lembro-me dos primeiros beijos na boca desengonçados e cheios de técnica ensaiada e pueril.
Lembro-me dos beijos de corpo todo, sem técnica nenhuma, e cheios de pele, mãos e verdade.
Lembre-me dos beijos em pai, mãe e irmão.
Lembro-me de beijinhos em bochechas e barriguinhas e testinhas e pezinhos e cabelinhos de crianças que me fizeram acreditar que, ufa, eu devo valer alguma coisa nesta vida.
Beijar é parte do cotidiano. Não sabemos dizer quantos beijos damos ao longo de um só dia. Mas há um beijo que é singular. Este, talvez se possa saber quantos foram, ao longo de toda uma vida. É um beijo que se pode dar em homem, em mulher, em criança, em idoso. E, apesar de tão universal, é o mais raro; o diamante dos beijos: o beijo na mão.
Não estou me referindo ao beijo de galanteio, que hoje pareceria anacrônico e tolo. Nem estou falando de "A sua benção, padre". Não. Falo do beijo que se dá na mão de alguém, por devoção. É aquele beijo que se dá como o melhor dos agradecimentos, porque qualquer palavra seria rasa demais. É uma gratidão que transborda e precisa virar pele. É um "Não acredito que você exista para mim".
Beijar a mão de alguém é beijar sua alma. É orar para um Deus que tem nome e rosto e pele. É adorar sua imprescindibilidade. É torcer para que a vida lhe seja tão generosa quanto foi conosco, por termos aquela pessoa a quem beijar.
Beijar a mão é fazer-se oferenda, quando todas as outras formas de agradecer seriam tolas; quando a dádiva é tão grande, que só cabe agradecer com o próprio corpo; só se pode agradecer com aquilo que se é, e não com o que se pode dizer ou dar.
Beijar a mão é acolher-se no ninho, enquanto se explode de gratidão.
Beijar a mão é ajoelhar-se com os lábios.
Lembro-me, na pré-adolescência, quando comecei a cumprimentar as meninas com um beijinho no rosto, que eu fazia com aparente naturalidade, mas sempre com especial ansiedade.
Lembro-me dos primeiros beijos na boca desengonçados e cheios de técnica ensaiada e pueril.
Lembro-me dos beijos de corpo todo, sem técnica nenhuma, e cheios de pele, mãos e verdade.
Lembre-me dos beijos em pai, mãe e irmão.
Lembro-me de beijinhos em bochechas e barriguinhas e testinhas e pezinhos e cabelinhos de crianças que me fizeram acreditar que, ufa, eu devo valer alguma coisa nesta vida.
Beijar é parte do cotidiano. Não sabemos dizer quantos beijos damos ao longo de um só dia. Mas há um beijo que é singular. Este, talvez se possa saber quantos foram, ao longo de toda uma vida. É um beijo que se pode dar em homem, em mulher, em criança, em idoso. E, apesar de tão universal, é o mais raro; o diamante dos beijos: o beijo na mão.
Não estou me referindo ao beijo de galanteio, que hoje pareceria anacrônico e tolo. Nem estou falando de "A sua benção, padre". Não. Falo do beijo que se dá na mão de alguém, por devoção. É aquele beijo que se dá como o melhor dos agradecimentos, porque qualquer palavra seria rasa demais. É uma gratidão que transborda e precisa virar pele. É um "Não acredito que você exista para mim".
Beijar a mão de alguém é beijar sua alma. É orar para um Deus que tem nome e rosto e pele. É adorar sua imprescindibilidade. É torcer para que a vida lhe seja tão generosa quanto foi conosco, por termos aquela pessoa a quem beijar.
Beijar a mão é fazer-se oferenda, quando todas as outras formas de agradecer seriam tolas; quando a dádiva é tão grande, que só cabe agradecer com o próprio corpo; só se pode agradecer com aquilo que se é, e não com o que se pode dizer ou dar.
Beijar a mão é acolher-se no ninho, enquanto se explode de gratidão.
Beijar a mão é ajoelhar-se com os lábios.
Helder Conde
Que lindo!
ResponderExcluirComo sempre quando acabo de ler seus textos....penso: É verdade!!!
Tudo q vc escreve tem profundidade e é verdadeiro.
Sinta-se beijado!!!
Martha