sábado, 2 de julho de 2011

Aquelas Mulheres de Branco

Semana passada, no feriado de Corpus Christi, passei uns dias descansando com a família em um hotel. E "descansando" é mesmo a palavra mais adequada: como todos que pegam no pesado, neste meio de ano eu estava precisando de uma pausa, que me permitisse desligar os motores e sossegar por alguns dias.

Só que, neste resort em que fiquei, em Campinas, entre as várias pessoas que vi, algumas delas me chamaram atenção especial: as personagens que dão título a este texto; as babás, aquelas mulheres de branco, que viajaram junto com seus patrões. Como estamos em Julho - época de férias escolares, em que muitas famílias viajam - achei oportuno escrever a respeito.

Mas, antes, quero deixar muito claro que não tenho absolutamente nada contra quem viaja com suas babás. De modo algum! Apenas aproveito para colocar no papel (na tela, você entendeu, vai!) algumas ideias sobre pais, filhos e convivência em família.

É claro que para algumas daquelas moças e senhoras, estar ali representa uma oportunidade muito bacana: um resort bonitão, com comida de primeiríssima qualidade, ambiente agradável e, visivelmente, patrões que gostam delas e valorizam sua presença. Não vi, em momento algum, alguém sendo ríspido ou grosseiro com elas. Ainda que seja a trabalho, imagino que estar ali seja uma coisa prazerosa.

Mas, o que realmente significa, do ponto de vista dos pais, a presença das babás ali? E não posso falar disso, sem falar de mim mesmo e da minha relação com a família.

Quem já leu meus textos anteriores, sabe que eu sou daqueles que trabalha 14 horas por dia. Não me considero workaholic, em absoluto. Já fui, mas não mais. Trabalho muito e gosto do que faço, mas encontro prazer em muitas outras atividades, que nada têm a ver com trabalho. Entre esses prazeres, está o de ficar com minhas filhas.

É verdade que, ficando em casa, mesmo que estejamos juntos, às vezes caímos numa rotina meio tola: cada um para o seu lado, lendo, jogando video-game, navegando na internet. Mas, muitas vezes, também estamos fazendo "nada" juntos: brincando, contando histórias, assistindo House e fazendo comentários sobre sua personalidade intrigante e maluca. E, nestes momentos, sinto um grande prazer.

É claro que ir viajar é uma ótima oportunidade para descansarmos. Mas confesso que nunca me imaginei indo para um local destes, e me abstendo de "cuidar" das minhas filhas. É claro que há os tios da recreação, e elas passam algum tempo com eles. Mas elas também ficam boa parte do dia com a gente e gostam de fazê-lo. Não vejo nos tios uma chance de "finalmente me livrar das crianças". Quero férias, sim, mas não das minhas próprias filhas. Estando ali, elas são automaticamente parte fundamental do meu descanso e dos prazeres que as férias - não importa quão curtas - me proporcionam.

Se elas não estiverem junto, aí é outra coisa. Já viajei sem as crianças, sim. É foi ótimo! Acho que os pais que têm esta chance, devem fazê-lo, vez em quando. Mas isto não é sempre! Quando estamos com as crianças, estamos realmente com as crianças!

Voltemos às babas. Imagino que algumas, lá no resort, talvez até dormissem no mesmo quarto que as crianças, para que os pais pudessem ter a devida privacidade, depois de um dia bem aproveitado ao sol. Algumas famílias, com 2 filhos, tinham uma babá para cada criança, inclusive.

Muitos daqueles pais que estão ali, devem trabalhar muito, como eu. E talvez fiquem pouco com suas filhas, como eu. E devem também estar ansiosos por um merecido descanso, como eu. No entanto, ao levar as babás, estes pais e mães perdem a oportunidade de, finalmente, passar momentos com os filhos fora de casa, como uma família - com as partes boas e as ruins. Ao levar as mulheres de branco, os pais ficam só com "a parte fácil" da convivência com os filhos, sempre limpos, banhados, de dentes escovados e cabelos penteados. Isto, convenhamos, não é muito diferente das noites, quando chegam em casa tarde, e vão dar um beijinho nas crianças, já adormecidas. No final das contas, viajaram com as crianças e mantêm delas, voluntariamente, a mesma distância asséptica que têm no dia-a-dia, por imposição da vida atarefada. Bem, isso para não falar daquelas que de atarefadas não têm nada... e ainda assim, levam as babás.

Felizmente, na minha família, tivemos a felicidade de contar com vovós quando nossas filhas eram pequenas, para nos ajudarem - e contamos até hoje, eventualmente. Isto nos permitiu não precisar de babás. Imagino que seja bastante difícil para aquelas mães e pais que vivem longe de suas famílias, ter que confiar a terceiros os cuidados aos seus filhos. É por isso que respeito e valorizo muito o trabalho das babás e os laços de amor que muitas delas criam com as crianças sob seus cuidados.

Talvez para algumas daquelas famílias, a babá seja realmente parte da família - o que legitima sua presença ali. Mas acredito que a maioria delas não as vê assim, não importa quão bem as tratem. Parece-me que muitos daqueles pais e mães perdem uma chance ímpar de, finalmente, cumprir um papel que habitualmente é da mulher de branco: simplesmente estar com os filhos. Dá trabalho, sim. E, se dá trabalho, mesmo que possam encarregar-se dele, simplesmente continuam a delegá-lo, para que outrem o faça.

Não estou apto a dizer que impacto isto terá na vida dessas crianças e dos futuros filhos destas crianças. Mas espero que isto não as faça acreditar que a distância é boa. A Privacidade é boa e a individualidade, também. Mas, distância, não.

Olhando minhas filhas de 10 e 8 anos, e quão rápido cresceram, "distância" é uma coisa que eu não quero neste momento. A vida vai se encarregar de fazer isto naturalmente, quando crescerem mais. Mas, enquanto não faz, quero me sentar com elas à mesa para fazer as refeições, brigar para que não limpem a mão na toalha de mesa e lembrá-las mil vezes de mastigar com a boca fechada. Fácil, não é. Muitas vezes, nada prazeroso. Mas a vida não é feita só de prazeres, é? Certamente as mulheres de branco saberiam falar muito bem a este respeito.



Um comentário:

  1. Muito bom o texto! Concordo com você! E me pergunto: pra quê ter filhos se nem nos passeios as pessoas têm paciência de cuidar dos seus. Pobres crianças...
    beijos,
    Olivia

    ResponderExcluir

Comente! Mas não se esqueça de assinar!




Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...