quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Silêncio


Cada um dos dedos pesa uma tonelada. Mal têm forças para encontrar as teclas, em geral tão fáceis.

Os cadarços, que fiquem desamarrados, mesmo.

As costas, que fiquem curvadas, e os ombros, caídos. Vaidade, não há.

A barba, fica por fazer. Porque olhar-se no espelho dá muito trabalho. Ou muito medo.

Os olhos, ásperos, enxergam pela fresta que a duras penas se mantém, ao final de longas e penosas piscadas que imploram por não abrir.

A boca, seca, não fala. A voz rouca, primitiva, quase inaudível, grunhe apenas o indispensável.

A respiração às vezes se esquece de ser. E, aqui e ali, encomenda um longo suspiro ou bocejos de corpo inteiro, em busca de um ar que parece faltar. Ou que, teimoso, falta, de fato.

O ruído dos pés se arrastando pelo chão, reforça um cansaço, que, impiedoso, acorrenta os sentidos e as ideias, deixando lugar apenas para o absolutamente essencial.

E tudo o que se quer é um pouco, só um pouquinho de silêncio. Um silêncio horizontal. Silêncio com cheiro de travesseiro limpo e temperatura de abraço.

Silêncio do corpo, para descansar um pouco. Só um pouco. Só um pouco...

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