domingo, 9 de novembro de 2014

Inclusive


Sábado à noite. O leve cheiro de carpete gasto o lembrava de que precisava comprar um daqueles cheirinhos de ambiente para dar um ar pessoal ao local, com paredes cor de nada.

Não tinha programa nenhum. Tomou banho, decidindo o que iria fazer, enquanto via a espuma branca do shampoo escorrer pelo ralo. Desodorante. Pente. Cueca, calças, meias, camisa. Sem perfume. Preguiça.

Iria sair, talvez. Cinema? Nah! Poderia fazer qualquer coisa. Para que se fechar sozinho, ainda que rodeado de gente, em uma sala escura, com um balde de pipoca na mão? Não. Faria algo mais interessante, claro.

Quase pegou o carro e saiu dirigindo. Poderia facilmente dirigir por horas, centenas de quilômetros, para algum lugar onde houvesse perfume, brisa fresca e sorrisos.

Poderia ligar para uns amigos, poderia ir dançar, poderia ir ao teatro, que adorava. Poderia tentar escrever algo que prestasse. Poderia jantar em algum lugar novo. Poderia ver pornografia na internet.

Mas, não. Foi ao Carrefour, comprar sabonete e desodorante. E observou as pessoas, com respeito. Notou que os olhos de quem faz supermercado num sábado à noite têm um que de resignação e paz. Olhos de tanto faz.
  
Comprou também Ferrero Rocher, para quando a boca ficasse amarga, depois que as luzes se apagassem. E bolacha recheada de doce de leite. Porque a dieta iria começar só na segunda-feira, como em todas as outras.

Fez o que tinha que fazer e voltou. Notebook no colo. Norah Jones. Mãos sobre o teclado. Tela em branco. Tela em branco. Tela em branco. Ar condicionado fraquinho, travesseiro macio e lençol cheiroso. Tela ainda em branco e olhos pesados. Mão no abajur.

Há momentos em que se pode fazer qualquer coisa. Qualquer uma. Tem-se todas as opções à disposição. Inclusive, a de estar só. Click!

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